Partida
Ao chegar no Rio de Janeiro não vi nada de cidade maravilhosa; barracos, casas no tijolo, vielas escuras e pessoas infelizes indo trabalhar antes das cinco da madrugada, a paisagem não ajudou a me animar. Quando notei em algumas pilastras de viaduto os murais do Gentileza me senti melhor, como se me dissessem: 'ok com essa tristeza, mas também tem coisas boas no mundo, não se esqueça'.
Vipassana
“Start again, start again...
With a caaaalm and quiet mind....”
Tive de esperar umas duas horas antes de embarcar para Miguel Pereira onde faria o retiro de meditação vipassana. Para se chegar na cidade é preciso subir a serra, que parece interminável de tantas curvas, mas ainda assim é uma paisagem para se apreciar. Cheguei bem cedo por volta das 9hs, e deveria estar no centro de vipassana a partir das 14, o que me deu um tempo para descansar. Logo chegaram mais pessoas que estavam indo para o retiro e começamos a combinar de dividirmos um táxi quando algumas pessoas do vipassana passaram pela rodoviária e nos ofereceram carona até lá.
O retiro é uma experiência a parte. A grosso modo é como viver durante 10 dias como um monge, 10 horas de meditação por dia, voto de silêncio, e autodisciplina rígida, mas não é disso que o retiro é feito, a verdadeira experiência é profunda e pessoal demais para ser explicada aqui, e somente passando por algo assim se pode ter parâmetros para avaliar.
O local onde é realizado, o Dhamma Santi, é lindo, no meio da mata atlântica, o que ajuda muito a se desligar um pouco do mundo de fora, o que é necessário durante o curso. Esse detalhe e muitos outros, que podem parecer banais a primeira vista, são importantes para manter a concentração necessária para trabalhar a técnica como se deve.
Depois de dez dias a sensação é de estar mais consciente de si mesmo, alguns saem mais abalados, outros mais leves, alguns não levam a sério e passam pela experiência superficialmente, é algo pessoal, mas dificilmente você passa por algo assim sem uma carga de autoconhecimento.
Muitos quando ouvem falar de '10 dias em silencio' (o que inclui comunicar-se por gestos, olhares, ou qualquer outra forma) pensam que deve ser desesperador algo assim. O que acontece é o contrário. No final dos 10 dias todas as pessoas falaram que o silencio ajudou durante o retiro e que inclusive ele poderia durar mais tempo. Notamos o quanto o tempo todo falamos coisas totalmente desnecessárias, por costume, por vicio de falar, o quanto somos mais prudentes e atentos no silencio. Alguns comentaram que 'todo relacionamento deveria começar com dez dias de silencio' - uma teoria interessante da qual não vou discordar.
Na manhã depois do último dia juntamos algumas pessoas que iriam para o Rio e alugamos uma van. Descendo na rodoviária fui comprar a passagem para Paraty, pensando que chegaria lá no final da tarde. Perguntei para um colega do rio se a viagem era de umas 2 horas e ele me respondeu rindo que na verdade eram umas cinco horas, que embora parecesse perto eu só chegaria no final do dia. Embarquei as 14hs para chegar perto das 19hs, em parte do caminho sentei ao lado de um inglês que tinha acabado de chegar ao Brasil e ajudei ele com mais informações sobre nossas terras tupiniquins. Chegando em Paraty tudo o que eu queria era uma praia e um hambúrguer, mas isso fica para o próximo post.
Usina nuclear de Angra dos Reis vista da estrada
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